sábado, 24 de maio de 2014







Zuenir é o clássico caso de sujeito cujas idéias já passaram do prazo de validade mas que ainda se agarra a idéia de que os cabelos brancos podem lhe dar total impunidade, mesmo enunciando tantas barbaridades em forma de texto.

Zuenir é um daqueles que acham que o país lhe deve até hoje por ter chamado o regime militar - que matou, torturou e seqüestrou as liberdades democráticas do Brasil por 21 anos – de bobo e feio. Se não fossem os excessos cometidos por esse brutal regime, é bem provável que a ditadura nem chamasse a atenção do autêntico revolucionário de gabinete: tirante os amigos e familiares do velho crítico que foram perseguidos, a Ditadura mais parecia uma pujante democracia.

Tanto é assim, que findo o asqueroso aparato ditatorial, a continuação de todo um processo de recorrente violência estatal, a repressão política e social a grupos marginalizados na sociedade, a repressão descabida, os seguidos casos de brutalidade policial, os milhares de exemplos e denúncias de tortura nos porões da democracia formal-liberal e tantas outras situações de extrema violação de direitos básicos de cidadãos das camadas pobres do país, nada disso parece ter feito o combatente da Praia do Leblon imaginar que tudo acima apontado pode muito bem ser encarado como um projeto de controle e esmagamento das classes pobres e pretas que é em tudo semelhante ao que era realizado pela ditadura militar, só que antes direcionado contra grupos políticos de esquerda.

Que nada. Para o homem das causas que nunca foram vencidas (até porque a elas ele nunca compareceu...), a questão da segregação sócio-racial na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, seria fruto tão somente da existência de duas “cidades”, uma sem-lei (favelas) e outra civilizada (a sua doce Zona Sul). Tudo se resumiria então na questão da omissão do Estado em combater o poder paralelo, que teria seqüestrado os territórios favelados da cidade, impondo um regime de terror sem precedentes; tudo transcorreria desse jeito: vilões que teriam saído não se sabe de qual caverna ou galeria subterrânea (ou vindos de um outro planeta, quem sabe?) teriam invadido o espaço das favelas (também extra-terrestre), vitimando pessoas inermes, desvalidas e apáticas – contando com a pusilanimidade de um Estado dorminhoco, babão, mentecapto e que não dá o verdadeiro valor a essa gente que trabalha, rala e sonha por um dia melhor...

Miolo mole

Mas o que é isso seu Zuenir? As intermináveis tardes no calçadão do Leblon fizeram o que com o que restou da sua capacidade de raciocínio crítico? Se o nosso amigo da elite carioca, antes de se meter a fazer uma análise profunda da segregação social, partisse daquela mágica pergunta, a clássica indagação dos advogados – “Mas a quem interessa tudo isso?”, é crível que muita sandice e banalidade deixasse de ser escrita. Mas não. E o pior: todo o lamentável espetáculo de desinformação e vulgaridades travestidas de conceitos minimamente sérios desfilados em seu “Cidade partida” ainda conseguiu figurar acompanhado do rótulo de análise-séria-e-profunda-de-um-típico-representante-do-pensamento-de-esquerda. Que absurdo! (O Barão de Itararé fazendo piada seria mais frutífero que uma observação do Zuenir concentrado, em posição meditabunda).

E dessa imagem o intelectual orgânico do Posto 11 soube se servir. Os espaços em jornais lhe afloram até hoje. Seus livros são lidos, muito menos pela qualidade (rasa e redundante) e muito mais pela áurea de “um homem que lutou bravamente contra o tacão da censura”.

Mas há momentos que Zuenir não se deixa mentir. Longe disso. O seu “Na Idade das Pedras”, estampado no jornal O Globo, é mais um constrangedor retrato da degradação intelectual do pseudo-esquerdismo que tanto lucrou se encostando em mitologias sobre a resistência à Ditadura.


Não fala bobagem!

Vamos a alguns trechos. Advirto logo: vocês não estão diante de uma paródia do Justo Veríssimo, da Odete Roitman ou do Caco Antibes – não, de jeito nenhum. Trata-se de elementos do repulsivo raciocínio do senhor Ventura.

Assim ele começa o seu rosário que faz lembrar muita vovó da Marcha da Família com Deus:

Algumas semanas fora, e a volta a um país de cara amarrada, espumando de raiva, quebrando e depredando como se estivesse na Idade das Pedras, além das de crack. Depredar 708 ônibus em dois dias é uma proeza inédita. Em mais de 60 anos no Rio, nunca vi igual.

Nunca ver nada não é de hoje por parte do Zuenir. Ele não vê nada que transcenda as fronteiras da República do Leblon. E o sujeito consegue comparar trabalhadores e manifestantes com criminosos e viciados. Nada mais deplorável. Nem os meganhas do DOI-CODI chegavam a tanto. Nem eles desciam a um nível de indigência intelectual tão abjeto. E baseado em quê ele nos fala de 708 ônibus depredados? Só mesmo um ancião, criado a base de danoninho e leite de cabra, que nunca pegou um ônibus ou uma van, que ao invés de gastar mais de 6 horas por dia para se deslocar da casa para o trabalho, despende todo o seu tempo para queimar  no calçadão de Ipanema, pode sentir tanta peninha do pobre cartel que domina o lucrativo sistema de transportes do Rio. No mais senhor Zuenir, adote um empresário de empresa de ônibus...

Zuenir, o Godzilla do Leblon

Logo a seguir, Zuenir dá mostra do avançado estágio terminal do seu respeito pela integridade intelectual:

Parece que estamos atravessando um cumulus nimbus, aquelas nuvens que são o terror dos passageiros aéreos porque provocam turbulências capazes de derrubar o avião. Não fosse o medo de ser acusado de racismo, eu diria que a coisa tá preta. Se até Jair Rodrigues parou de sorrir.
O desvio virou norma e, contrariando o princípio da democracia, em que prevalece a vontade da maioria, a minoria é quem manda agora, ou tenta mandar. Por qualquer reivindicação, um pequeno número de manifestantes pode impedir o trânsito de milhões de pessoas a caminho do trabalho ou de casa.

Exceto a parte em que ele mais uma vez agride o direito de greve dos trabalhadores, um direito constitucional, pertencente a qualquer democracia minimamente decente e que nunca seria contestada no continente tão endeusado por ele – a Europa -, Zuenir mostra o quanto passar o tempo todo na praia pode sim torrar os miolos de um sujeito: pois, como explicar frases tão desconexas e sem sentido como “até Jair Rodrigues parou de sorrir”(?!?!?!) ou “passageiros aéreos” que utilizam avião? Mas o que é isso? Alguém entendeu alguma coisa?????
 
Mas atacar o direito de qualquer cidadão/cidadã e trabalhador/trabalhadora de realizar greve nesse país (direito que só era contestado pelas ditaduras mais selvagens e odiosas da história) parece ser o refrão preferido do “ex-querdista”. Para isso ele não hesita em lançar mão de um conjunto canhestro de inverdades e distorções dos fatos.

O exemplo mais gritante foi a greve dos rodoviários cariocas, promovida por um grupo minoritário de “dissidentes”, que, derrotados na assembleia da classe, impuseram à força e contra a vontade do próprio sindicato e da Justiça a paralisação da cidade por 48 horas.
Um amigo me aconselhou: “Fica calmo, porque vai piorar até a Copa.” Minha esperança é que seja um surto, e que a pouca adesão aos protestos de anteontem mude a orientação.

De onde o senhor tirou isso? Como pode ter se informado tão bem assim lá de Portugal (pobre terrinha!)? Ou estamos diante de mais uma torpe tentativa de apresentar uma campanha ideológica de agressão aos movimentos sociais sob a capa de notícia? 
É intrigante pensar o que dizia Zuenir quando as tentativas de se organizar greves durante o regime militar eram duramente reprimidas, com seus “cabeças” e “dissidentes” levados aos porões da tortura, às casas da morte e seus corpos levados aos rios, ribanceiras e matagais desse país à fora. Seriam esses tempos (o do Regime) de mais esperança, mais alívio e menos medo?

Para finalizar seu destemperado arrazoado contra o direito do trabalhador e da sociedade em geral em se manifestar e lutar pelos seus direitos – inclusive o de viver com o mínimo de dignidade – Zuenir tenta descer a um nível mais baixo ainda na sua análise sociológica, comparando o cenário dos movimentos sociais a um “sanatório” e acusando a psicanálise como a grande inspiradora do seu palavrório alucinado – pobre Freud!
Desde que Freud passou a substituir Marx nas análises da realidade, sabe-se que o meio ambiente não explica tudo. Assim, para entender o sanatório geral que é hoje o Brasil, recomenda-se chamar, além dos sociólogos, os psicanalistas.

E poderíamos completar: no caso de autores de reacionarismo tão senil, com flagrantes sinais de decadência ideológica, recomendamos um geriatra.





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