domingo, 25 de novembro de 2012

O Brasil tem dono.



Mas o que motivou tamanho lance de gênio?



Se fosse pelo currículo, não havia porque ter chamado Mano Menezes para o cargo de técnico da Seleção Brasileira. Vá lá que outros nem isso tinham: casos de Falcão e Dunga. Mas foram invenções absurdas do Ricardo Teixeira. Este voltou a inventar, só que com um agravante: ao chamar Mano,Teixeira entregava em suas mãos a Seleção que tentaria o título de campeão mundial jogando em casa.  Caso acontecesse seria o título mais glorioso na história da Seleção. Uma conquista que ficou entalada desde o chute de bico de Gighia no Maracanã lotado naquela fatídica tarde de 16 de julho de 1950. E o Brasil foi vice depois daquele chute que entrou entre o vascaíno Barbosa e a trave. Tinha que ser um vascaíno....

A escolha de Mano foi descabida. Com um título do simplório campeonato gaúcho e uma Copa do Brasil pelo Corinthians, o que mais Mano ganhou que justificasse a sua escolha? Ganhou dois campeonatos brasileiros. Foi campeão pelo Grêmio e pelo Corinthians. Campeão do campeonato brasileiro da Segunda Divisão. Segunda Divisão! Em 2005 e 2009 respectivamente. Vejam: os títulos mais importantes do cartel do técnico gaúcho são da divisão inferior. Ele tem literalmente um currículo de segunda.  Onde, quando e como um técnico com um currículo desses poderia assumir a Seleção Brasileira? Só pelas mãos do tresloucado ex-presidente, que fugiu para Boca Ratón, sem responder qualquer das acusações lançada contra ele. Uma sequer. Para completar, a Justiça Suíça logo após a sua saída revelou uma decisão dela que tramitava em segredo: o ex-presidente foi considerado culpado por receber propina de uma empresa ligada ao mercado publicitário.

E como se não bastasse o péssimo trabalho a frente da Seleção, Mano se esmerou em fazer convocações absurdas. Testou em pouco mais de 2 anos 13 goleiros. Como ele conseguiu fazer isso? Isso começou a chamar a atenção. O canto de trás das nossas orelhas começou a coçar com insistência. Uma das últimas foi convocar Felipe Gabriel, reserva do Botafogo.

Reserva do Botafogo!!

Tudo muito estranho. Aí já não dava pra ignorar as palavras do Baixinho sobre Mano. Por mais que descambasse para a baixaria, com o Baixinho chamando o treinador de “idiota” e “imbecil”, o agora deputado socialista (embora seja do PSB...) denunciava:
“Você (Mano) convocou mal, por interesses dúbios, levando Hulk em cima da hora e deixando David Luiz. Escalou mal os 18 jogadores que você tinha na mão. Lucas é disparado o melhor da seleção, depois do Neymar”.

E Romário completava que ele era “atrasado taticamente”. Não acreditava que ele fosse capaz de realizar qualquer inovação no time porque
“[Você, Mano,] não tem capacidade, inteligência, segurança, hombridade para fazer isso. Você é medroso, você é pior treinador de todos os tempos da Seleção, é só ver os resultados. Uma vergonha para meu país”

Mas isso era o de menos. As acusações de Romário eram sérias, graves. E Mano – talvez seguindo o mal exemplo de cima – não veio à público para esclarecer, contestar, repelir, desdizer uma afirmação sequer. No meio disso tudo – acusações, jogos pífios da seleção etc. – Mano ainda encontrava tempo para ser pego no teste do bafômetro no Rio. Ou melhor, acabou se recusando em assoprar o aparelho...



Em setembro, Romário voltava à carga e fazia novas acusações. Cada uma mais cabeluda que a outra. Mas esta era demais. Depois da convocação de Cássio, goleiro do Corinthians – do mesmo empresário de Mano – o baixinho disparava:
E, agora, o goleiro do Corinthians, que tem seus direitos econômicos ligados a pessoas da Confederação Brasileira de Futebol. Após a convocação e alguns jogos pela seleção, se já não foi, será vendido para o Roma. Quem leva? Uma instituição como a CBF, que é isenta de impostos federais, já está mais que na hora de passar por uma auditoria”.

E o deputado lembrava de outra situação:
“A convocação do Hulk para as Olimpíadas e, logo em seguida, a realização de uma das transferências mais caras da história do futebol. O jogador saiu do Porto, de Portugal, para o Zenit, da Rússia, por 55 milhões de euros (R$ 140,8 milhões).”

Segundo Romário eram indícios mais do que suficientes de que estava em operação na Seleção um verdadeiro “cartel nas convocações”. Mas será Romário? Não acredito....

E de maneira patética Romário chega a clamar ao “Grande(sic) ministro" Aldo Rebelo, o comunista,
"o povo brasileiro não merece isso, nos ajude a acabar com essa sacanagem.”

Mas por que só agora? Por que só depois de 2 anos? Por que só depois de tantas trapalhadas Marin descobriu que a Seleção não merecia Mano?

A explicação não é técnica. A técnica nunca entra no campo da política. Em qualquer lugar. A política tem suas leis. E elas são férreas. E mais do que isso: ela tem seu tempo. Que é diferente da técnica e da política. Ainda mais com uma disputa política muito séria no primeiro escalão da CBF. Uma luta dupla. Uma da atual cúpula – que é hegemonizada pela federação paulista – contra as federações mais resistentes a tamanho domínio paulista, mas que já foi quase contornada. Mas há uma outra ainda acesa. Que é remover os antigos protegidos de Ricardo Teixeira, e que são na sua maioria ligados ao Corinthians. Nesse caso Marin e Marco Polo Del Nero – umbilicalmente ligados ao São Paulo – lutam para desalojar o grupelho do Parque São Jorge que se instalou há pouco mais de dois na CBF. Mas não é fácil. Mano foi o primeiro a ser limado. Agora falta Andrés Sanches, ex-presidente do Corinthians. Mas esse não é protegido apenas por Teixeira, mas por Lula. Esse deu o Itaquerão. Em troca Andrés trabalhou arduamente como cabo eleitoral de Haddad. Marín sabe o quanto é custoso remover seu grande adversário. Mesmo que Andrés queira ser o novo presidente da CBF. O custo pode pesar: Andrés é ligado ao homem que sempre fez a ponte entre a CBF e as empreiteiras. Fundamentais para as obras da Copa...

Mas Marín, homem tarimbado, que forjou seu nome durante os anos de chumbo da ditadura, espécie de patrono do DOPS, sabe trabalhar com o tempo. Deixa que o adversário se desgaste. E trabalha pra isso. Calmamente. Cozinhando com astúcia e certa crueldade o adversário. E joga pra isso com o tempo. Seu principal aliado. Por isso esperou até o fim do ano. Por isso fez questão que fosse Andrés o homem a anunciar a demissão de Mano. Fez Andrés dar uma coletiva e isso depois de ser voto vencido sobre a demissão do técnico. Quer medir até onde vai a obstinação de Andrés em confrontá-lo. É uma guerra de nervos. Dura. Ele quer ver o quanto de pancada pode aguentar o ex-verdureiro, fundador do Pavilhão 9 – torcida organizada do Corinthians.

A essa disputa o futebol brasileiro está refém. É sintomático também que a demissão de Mano tenha sido votada não na sede da CBF, mas na sede da Federação Paulista de Futebol e foi ali também que Andrés foi obrigado a comunicar a demissão de seu amigo.

O Brasil vai de mal a pior. Mas os paulistas não estão nem aí com isso. O poder embriaga. E o poder hoje está com os paulistas encastelados na CBF. E isso é só o começo da ofensiva bandeirante. Eles querem mais.
 Leonardo Soares é professor e carioca. E raramente vai à praia.

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